Monday, April 16, 2007

 

Dos que não jogam (1)

Na linha de uma velha tradição deste blog (remonta à primeira edição do concurso, lembram-se?), publicaremos nesta série textos daqueles que, não sendo praticantes desta espectacular modalidade, escrevem sobre ela ou assuntos com ela correlacionados. Estando, no mês que antecede uma nova organização dos Mamedes, a sempiterna questão das duas culturas em cima da mesa, apresentamos um texto de Luís Aguiar-Conraria, professor universitário de Economia, co-autor, em parceira com o escritor (e pai dele) Cristovão de Aguiar , de um hiper-recomendável blog, cujo subtítulo é um sintómático Letras Económicas (também o podem ler no suplemento de economia do Público - uma excelente exercício para aqueles que pensam ser a economia uma coisa árida e cinzenta que só trata de PIBs e inflações: vejam, por exemplo, este excelente texto sobre um drama doméstico de todos os dias). O trecho que, com a devida vénia, destacamos intitula-se, prosaicamente, Cultura Geral.

Cultura geral

Quando se fala em cultura geral raramente se fala de ciência. Quando Cavaco Silva se enganou sobre os cantos dos Lusíadas toda a "intelectualidade" fez pouco dele. Essa mesma intelectualidade não tem problema nenhum em não saber os princípios mais básicos de Economia. Pelo contrário, muitas vezes faz disso gala. Soubessem alguns princípios básicos, como a teoria das vantagens comparativas de Ricardo (que data de inícios de 1800), e talvez não dissessem tantas alarvidades, como sempre dizem quando discutem o comércio internacional. (...)

Desses intelectuais que ficam escandalizados quando alguém confunde Mann com Moore quantos sabem o que é o cálculo diferencial? Uma coisa que já vem do tempo de Newton. Dos que gostam de dissertar sobe o paradoxo de Zenão e da Tartaruga, quantos se deram ao trabalho de estudar os limites de funções para encontrarem a resposta ao paradoxo? Quantos perderam umas horas a tentar perceber a famosa fórmula de Einstein?

Será o cálculo diferencial menos património cultural do que o Ulisses, de James Joyce? (...)

Será? O Jorge Páramos, por exemplo, tem insistido quese a grelha for a da importância atribuída pelos organizadores de jogos de QdC, teríamos que chegar a uma enganosa afirmativa. Como é óbvio, não há nada de particularmente herético no QdC: é o reflexo do zeitgeist e das inclinações dominantes. E que diria o LA-C se soubesse que em mais de 2000 perguntas já realizadas durante o campeonato, apenas 3 (três) tiveram como tema a Economia?

Bem, num sofismo com algum jesuítismo à mistura, sempre poderíamos dizer que se trata de mera retribuição taliónica: afinal, à excepção dos estudos sobre a discriminação no Elo Mais Fraco, quantos estudos económicos têm o Quiz como tema ou campo de análise (excluindo, também, a aplicação da ciência da medida na definição do efeito sandwich)? Ah, pois. E a física? Papers a tratarem do Quiz, há? Pois é...

Leitura complementar: , Jorge Páramos e a sovietização da cultura, a preocupação de Vítor Magueijo, a regulação governamental do Quiz, Jorge Azevedo Correia e a mundividência pós-moderna e residual marxista que infecta o Quiz, ainda o Páramos e os inconvenientes do positivismo, o Quiz como cultura, a crónica do jogo com mais ciência da história do QdC, a explicação etimológica para a predominância de perguntas "humanísticas", e uma entrevista sobre o assunto à Sofia e à Patrícia, uma discussão nos comentários sobre o assunto.

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Comments:
"Na verdade, o economista indiano Hammad Siddiqi chegou à conclusão de que, uma vez que se tenha em conta o incómodo de ter a esposa aos gritos, a estratégia óptima será deixar sempre o assento pousado."

Eu não preciso de um economista para me dizer isto!
 
Ó Huguinho, agora apelidas de hiper-recomendável um berloque de esquerda? Tás doente, rapaz?
 
Há excelentes blogs de esquerda (ou escritos por pessoas de esquerda). O Destreza das Dúvidas nem é vincadamente político, mas, admitindo que é de esquerda, é, principalmente, um excelente blog.
 
"Eu não preciso de um economista para me dizer isto!"

Os economistas têm uma estranha tendência para tentarem demonstrar o óbvio. E, muitas vezes, não o conseguem: o óbvio não é assim tão óbvio como parece.
 
Essa mania virginiana de por etiquetas nas coisas não é nada saudável e, desta vez, até concordo contigo Hugo.
Só que há dois tipos de economistas:
Os que explicam mecanismos simples com uma linguagem complexa e os que com uma linguagem simples explicam mecanismos que até são complexos.
É a diferença entre saber e compreender que pode verificar-se em muitas situações (especialmente no quiz).
 
Pois, mas mesmo numa lógica de divulgação há mecanismos complexos que dificilmente podem ser explicados de forma simples. O risco de oversimplification é muito alto. O economista cito é óptimo a fazer isso. Outro muito bom é o Tiago Mendes do DE.
 
Uma coisa é ser superficial, outra é trazer o que está no fundo à superficie. Aprende que eu não duro sempre!
 
é a ressoma!
 
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