Tuesday, April 24, 2007

 

A minha opinião (Parte II - Onde a coragem dos organizadores valeu a pena)

Ante-Scriptum: Conforme prometido aqui (a propósito, leiam a discussão na caixa de comentários), tratarei agora das inovações que eu creio terem valido a pena. Chamo a atenção para o facto de nestes dois posts apenas analisar o que de novo houve na organização dos Mamedes – uma avaliação geral ao jogo ficará para a crónica.

A melhor palavra que encontro para definir o quiz de sexta será “académico”. Os ingleses fazem a distinção entre o quizbowl (jogado especialmente nas universidades) e o pub quiz. No primeiro, o que vai a jogo é conhecimento mais sólido, no segundo, não se prescindindo do primeiro, há mais espaço para fait-divers, banalidades, factóides da vida social e da história, em suma, tecnicalismos. Ora, o que se vem assistindo no quiz de cascata é aquilo que o Jorge Paramos e o Jorge Azevedo Correia já aqui diagnosticaram: uma radicalização a favor dos tecnicalismos – independentemente do tema, mas mais agravada quando tocava a ciências empíricas. Eu recordo-me de, no jogo de Janeiro, ter sido abordado no intervalo pelo então desconhecido Vítor Magueijo, que me dirigiu uma pergunta: “diz-me uma coisa: isto aqui não fazem perguntas de ciência?”. Ou seja, até o equílibrio próprio do "pub quiz" se tem vindo a perder.

Numa contagem privada que tenho feito, saíram nos 8 jogos anteriores a este 58 perguntas de BD. De cinema, terão sido umas 100 e muitas. Filosofia e economia, uma única. É claro que as perguntas devem ser escolhidas pelo critério de divertir as pessoas, e que existirá sempre preponderância de alguns temas sobre outros. O problema é quando se presume que os nossos gostos, ou os do nosso inner-circle, retratam fielmente as inclinações de todos, quando se toma a parte pelo todo - ou que existem temas que todos gostam ou poderiam gostar, em maior ou menor grau, como a BD e o cinema; e outros que não interessam porque, supostamente, ninguém gosta, como a teologia ou a bioquímica. As perguntas de filosofia e economia estavam interessantes – o que vem provar que os não-cientistas também podem fazer perguntas de ciências sem se refugiarem na banalidade.

As perguntas testaram efectivamente conhecimento científico trivial e não meros factóides da história da ciência – e digo isto com a autoridade de quem não faz a mínima ideia das implicações do benzeno ter uma estrutura em anel. É claro que é interessante saber e perguntar porque não derrete o gelo no microondas – bastante mais do que conhecer anos de Nóbeis, símbolos da tabela periódica e quem inventou isto ou aquilo. A esmagadora maioria das perguntas de ciências não implicava a frequência de qualquer curso universitário – apenas a leitura de livros ou artigos de divulgação científica. Negativo: algumas perguntas solicitariam “resposta aberta”. A meu ver, isso provocou problemas por duas razões: os leigos, por ignorância, imaginaram que estavam perante coisas hiper-complexas; e para isso muito contribui os especialistas na matéria terem revelado uma enorme tendência para o exibicionismo, com respostas bem mais extensas e complicadas do que seria necessário. Numa das poucas que eu sabia, a da temperatura se dever ao movimento das moléculas (obrigado Bill Bryson), nem sequer consegui entender a resposta que foi dada. Enfim, grande parte da agitação na sala é Pavlov que a explica.

Obviamente que houve algum exagero, e é natural que este género de perguntas seja minoritário – a divisão equitativa aproximava-se mais de um quiz bowl. Obviamente que não é desejável que existam tantas perguntas de química, em desfavor de áreas que, por entendimento comum, são nobres no quiz, como a geografia. Mas a este respeito, relembro do que escrevi na crónica do jogo de Novembro: “Mais do que é hábito, certamente, mas excessivo? Sendo que apenas esporadicamente há jogos com tanta ciência, julgamos que até resulta num equilíbrio justo”. Não retiro uma palavra.

Em suma: as perguntas (refiro-me apenas às dos temas menos habituais e que provocaram polémica) estavam muitíssimo bem esgalhadas. E parafraseando já não sei quem sobre os Lusíadas, se nós não percebemos isso, a culpa é nossa e não de quem as fez.

Assim, o saldo desta inovação é, a meu ver, amplamente positivo – porque equilibra as contas, quer nos temas, quer na tipologia de perguntas; e por provar que é possível fazer perguntas de ciências sem recorrer aos fait-divers. Não se devem confundir as tradições com maus-hábitos.

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Comments:
"Em suma: as perguntas (refiro-me apenas às dos temas menos habituais e que provocaram polémica) estavam muitíssimo bem esgalhadas."

Não se leia aqui que as relativas aos outros temas não estavam. Bem pelo contrário, houve algumas de antologia.
 
Isso é a tua opinião que vale o que vale, zero. E aliás admiro a tua auto-estima enquanto avaliador dos quizzes dos outros. Confere-te capacidade para integrares a equipa da Doutora Ministra Milu Rodrigues que também acha que existem uns iluminados que conseguem avaliar pobres mortais.

Sinceramente

Ricardo Chibanga
 
Ricardo Chibanga,

Isso é a tua opinião que vale o que vale, zero. E aliás admiro a tua auto-estima enquanto avaliador das opiniões dos outros. Confere-te capacidade para integrares a equipa da Doutora Ministra Milu Rodrigues que também acha que existem uns iluminados que conseguem avaliar pobres mortais
 
Afinal qual é problema?

Quem sabe, sabe!

ZP
 
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