Wednesday, April 11, 2007

 

Retrato da vida de um físico

  1. Jovem Investigador macera com a sua argúcia o pescoço fino e peludo de um qualquer alemão judeu traidor de fama obsoleta.
  2. Jovem Investigador (JI) nota ajuntamento de multidão engalanada à saída do anfiteatro.
  3. JI decide que as fronteiras do conhecimento humano já foram suficientemente abalroadas por um dia.
  4. JI reune dolentemente os seus parcos pertences.
  5. JI dirige-se para a turba festiva com o seu coxear blaze tipo House.
  6. JI investe de muleta em riste contra os mini-croquetes, mini-chamuças, mini-pastéis de bacalhau, mini-rissóis de camarão, mini-pastéis de nata, mini-croissants, mini-jesuítas, mini-guardanapos. E contra o sumo.
  7. JI, semi-saciado, questiona conviva sobre quem é o recém-Doutor. É, consta, o ocupante da casa de banho.
  8. JI decide esperar. Come mais uma mini-chamuça.
  9. JI é interpelado por Jovem Atrasada (JA). JA diz a JI que deve interromper a degustação, visto que a Doutora (D) é que vai inaugurar a mesa.
  10. JI questiona interiormente se um doutoramento deve ter como corolário o privilégio de desvirginar mini-apetizers.
  11. D aproxima-se da mole humana, recomposta da aflição do baixo ventre.
  12. JI aproxima-se de D.
  13. JI, afável, oferece os seus mais sentidos parabéns pelo feito académico, acompanhados de desejos de felicidades e dois castiços beijos nas bochechas doutorais.
  14. JI remata com um agradecimento pela comida à borla.
  15. D inquire JI sobre a sua identidade.
  16. JI anuncia-se como "o rapaz com fome".
  17. D sorri e concede-lhe a graça dos justos, apontando para a mesa mini-opípara.
  18. JI termina repasto com mais um mini-croquete e dois copos de sumo.
  19. JA dirige-se para JI e vitupera-o: "mal educado e desrespeitador".
  20. JI não corrige vocábulo revelador da condição de JA.
Moral da história: sem tecer considerações sobre causalidade, há uma clara correlação entre inteligência, educação e sentido de humor. E fome.

Post-scriptum: três horas passadas, JI é interrompido nas suas deambulações pelo asfalto da academia; de dentro de um automóvel semi-desportivo de gama média/alta, e acompanhada pelo seu companheiro, a JA insurge-se: "Já não tens fome?". JI ignora a familiaridade não solicitada do trato e esfrega a barriga sem pudor. "Agora já não".

Post-post-scriptum: no dia seguinte, JI beberica na entrada do centro de investigação o terceiro café da manhã, ruminando sob um Sol demasiado complacente para a produtividade nacional. D interpela JI e destrói tese proposta acima, reiterando acusações de JA. Aos berros, qual corista do São Carlos depois de um Red Bull a mais. Mas sem os seios contritos. JI mantém bonomia e pensa explicar-lhe que o ataque aos mini-morfes deriva da doutrina preemptiva neo-liberal. D não quer saber da corporação Rand ou de geopolítica.

Nova tese: inteligência, sentido de humor e fome estão claramente correlacionados.

Comments:
A tua "short story" está fantástica. Visto que somos ambos investigadores do mesmo antro académico, estou com uma curiosidade tramada de saber as graças de D e sobretudo de JA (caso saibas). Como me parece que não é o caso, contento-me com uma descrição das personagens e da sua área científica.

Já agora, o meu doutoramento tem sido um calvário, mas terá um fim. Por isso ficas convidado para os mini-acepipes que eu espero vir a expor à saída de um anfiteatro lá para Outono. Aparece. No entanto dispenso o beijo de congratulação...
 
A JA parece claro quem é.
 
A D é de química (centro do Complexo Interdisciplinar, acho), julgo que se chama Isabel Machado (mas posso estar a inventar) - que desconhecia e a quem realmente desejo as melhores felicidades na sua carreira. Conheces?

A JA (e respectivo namorado que, dentro do carro, me olhou com virulência) era um elemento da assistência, de proveniência completamente desconhecida.
 
«Já agora, o meu doutoramento tem sido um calvário, mas terá um fim«

já as "licenciaturas" de outros transformam-se num calvário depois do fim.
 
Atão olha lá, e o convite dos acepipes é estendido a mim?? No meu departamento o pessoal doutora-se e não há nem fotógrafo, nem acepipes, nem um bolo! Somos uns mitras...
 
Caro Jorge,

Se é do complexo, então devo conhecer pelo menos a cara da D.
Se for gira ou muito feia, então maiores são as hipóteses de eu conhecer a cara dela.

Sofia, claro que sim. Se quiseres até terás um acepipe com o teu nome, pois pode aparecer um JI vindo do éter e morfá-lo.

Então os Biobichos não dão comes e bebes? Essa não sabia.
 
LOL. Muito bom. E as verdades escondidas da Academia pátria vão-se sabendo. Agora a turma do croquete, que se julgava um exclusivo das discotecas do jet-set-pimba, também ataca por lá. Hoje já é tarde, mas amanhã venho aqui comentar o teu anterior equívoco (esqueci-me, pá), que há lá alguns óbvios equívocos e temo que, não sendo deslindados, isso te prejudique na elaboração do jogo.

Magueijo, arranja lá uns cocktails de dopamina para desembuchar do mini-rissol que também vou.
 
Update à acta, no fim do texto...
 
Jorge, de quem era o brigada anti-lacoste? teu?

http://brigadaantilacoste.blogspot.com/2007/04/aviso-o-blog-morreu.html
 
Não, do Alex, que pertencia à dita equipa no saudoso Quiz industrial.
 
sim, era meu, mas morreu já muito tempo; podem (não) estar descansados, nenhuma das perguntas que lá estão irá sair no dia 20
 
Ainda bem que vocês não têm ido a Frielas...

Olha lá Jorge, assumindo que estás melhor do joelho, que queres exactamente dizer com as perguntas que apelam apenas à inteligência? E que é isso da inteligência ser um tema? Na prática traduz-se como? Perguntas de matemática discreta? As charadas? E não creio que as cascatas afiram qualquer tipo de inteligência. Não exigem qualquer tipo de raciocínio complexo.

Também discordo de outras coisas, mais importantes, mas isto é prioritário. Depois continuo.
 
Acho que as perguntas tipo guilhotina seriam um bom paradigma a explorar, mas não queria atribuir tanta carga negativa ao tema como a que, admito, pode ser perceptível.
 
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