Thursday, April 26, 2007
Os arquétipos quizísticos
Antes demais, as minhas desculpas pela ausência de escrita na última semana, ou pela retoma nesta; como imaginarão, fui retido pela organização do quiz de sexta-feira. Dito isto, é de bom tom evitar manipular este púlpito como instrumento injustamente privilegiado de retribuição, pelo que me dedicarei a outro tema - esse sim, muito mais premente.
Concretamente, os diversos arquétipos de quizeiros da nossa praça.
Sem pretensões de generalidade ou acerto estatístico, conclui que muitos dos que nos rodeiam mensalmente no fórum ajudita se podem enquadrar em meia-dúzia de arquétipos mais ou menos injustos, que passo a expor:
- O campeão:
Distingue-se pelo seu ar demasiado à vontade. Demasiado porquê? É apenas humano que a pressão competitiva, social e intelectual vergue as naturais inclinações de um jogador, que se transforma dentro do quiz, para melhor ou pior. O campeão, pelo contrário, age como se tivesse nascido dentro de uma biblioteca, sido alimentado a queijinhos de Trivial Pursuit, e educado por meia dúzia de Arquimedes de fato e gravata: nada o afecta, a competição é apenas uma questiúncula entre brutos iludidos - ele sabe que é o melhor. Por vezes acusam-no de não o demonstrar e prejudicar a equipa com ares de imponência ausente. Num dia bom, talvez se digne a responder, com bonomia e distanciamento, que nem achou que fosse necessária a sua intervenção; num dia mau, acusará a equipa de não o apoiar, com a melhor pose de virgem ofendida pelos pecados do mundo. Num dia médio, disfarça qualquer desconhecimento ocasional com palavras como "sinergias", "colaboração" e "brainstorming".
- O herói:
Quer ser campeão, mas não tem jeito. Sabe que os tiques nervosos o trairiam numa representação mais avantajada de superioridade, por isso tenta disfarçar com palpites e respostas debaixo da língua (exemplo já versado neste blog). O mundo do campeão não necessita de salvação, porque ele lá está — já o do herói precisa, e esta tarda em chegar. Organicamente, tem uma ligação directa entre o cérebro e a boca, que se vai comprimindo durante o jogo; como tal, no início vomita ininterruptamente tudo o que se lembra, na esperança estatística de acertar... Vai decaindo para onomatopeias e gritos de golo falhado, por falta de vocábulos não utilizados e de ouvidos por macerar. Como desculpa, remata uns "Claro, era óbvio!" pós-resposta, e reage com irritação quando o interrompem: está a fazer o melhor que pode. Gosta de expressões como "ponta da língua", "inconscientemente" e "documentário algures".
- O fixe:
O fixe é fixe. Não quer ser herói, satisfaz-se plenamente com o seu estatuto; mas, por vezes, consegue sê-lo. A sua presença habitual passa por uma pose descuidada, meio derramado sobre a cadeira, a galar as gajas que porventura abarcar com a vista. Considera o quiz principalmente como uma actividade social, e a competição é-lhe indiferente. Só fala quando sabe e, por essa razão, é ouvido atentamente, embora com alguma ironia nos entre-olhares dos restantes membros. No entanto, a ausência de nervos traduz-se em palpites geralmente úteis, regalando-se com um ou dois actos de heroísmo por noite. Geralmente apaga-se durante o quiz, por falta de conversa e excesso de nervosismo circundante. Se não fosse pelo amigo que lhe pediu imenso que suprisse uma lacuna nos elementos da equipa, não vinha. Ou talvez viesse. Gosta de expressões como "Nope", "está tudo controlado?" e "Isto é X, na boa".
- O estroina:
O estroina começa fixe. Mas prefere ser conhecido como "bon vivant", "artola", "boémio", ou "curtido", "maluco", "marado" — consoante a faixa etária. Isto porque, com o decorrer das perguntas e o levantar de copos, o estroina rapidamente cruza a fronteira de fixe para o inevitável bêbedo. No processo, perde o mesmo à-vontade (e equilíbrio) que lhe permitiu ir ao bar enquanto os colegas ruminavam a cascata que se aproximava. Consoante a capacidade de absorção de álcool, estabiliza num opinador belicoso, ou resvala para o dissipador exaltado. No entanto, como até sabe bastante, as suas opiniões ou gritos são bastas vezes acertadas; infelizmente, o tom de ameaça ou o volume utilizado desacreditam-no. Não tem expressões favoritas, tem copos personalizados.
- O cromo: O cromo não se importava de ser estroina. Mas sente em demasia o peso da responsabilidade para relaxar, e tem apenas tempo para ir beberricando a sua bebida de eleição (do 7Up ao Whiskey) entre duas cascatas. Chateia-se com os estroinas da equipa, pelo caos que geram, mas prefere-os aos fixes, que simultaneamente inveja e censura pelo descomprometimento. Não tolera heróis: o cromo tem horror ao exibicionismo, que considera teatral e falso. A pressão inerente às perguntas que pensa ter a obrigação de saber pode levá-lo a enganar-se — os colegas têm de aprender a dosear a fé no seu conhecimento mirabolante, de modo a que não bloqueie. O cromo é o mais moral dos jogadores de quiz: traumas liceais e outros levam a que, mais que um plebiscito às suas capacidades intelectuais, sinta que da pontuação final depende o seu lugar e utilidade na sociedade. Expressões favoritas: "Não é nada assim...", "Perdemos por minha causa" e "Eu digo", seguido de um silêncio sepulcral até à cascata cair na equipa: o cromo não confia que os demais cgesonsigam transmitir a profundidade da resposta.
- O tímido:
O tímido não quer ser cromo, embora seja muitas vezes confundido como tal. Inveja o fixe, pelo à-vontade e suposta vida social preenchida. E detesta o herói, que o interrompe das poucas vezes que ganha coragem para se pronunciar. Muitas vezes associa-se ao estroina: o muito tempo que passa calado serve para se ir enfrascando subrepticiamente, e a eloquência alcoólica daquele consegue por vezes furar a barreira do silêncio. Por vezes. Ao contrário do fixe, entrega-se plenamente ao jogo, mas em voz baixa: uma equipa inteligente saberá utilizá-lo como fiel da balança e frequente factor de desempate de palpites e chouriçadas. Expressões favoritas: "Desculpa", "Não sei, talvez o que ele queira seja" e "Se calhar o melhor é votar".
- O mudo:
O mudo não quer ser nada. O seu isolamento é tal que ninguém percebe se é extremamente tímido ou simplesmente oco; os colegas dividem-se entre considerá-lo genial, difícil, burro ou simplesmente desambientado. Em todo o caso, não ajuda nem perturba, simplesmente está. Muitas vezes assume tarefas paralelas, como tomar conta da pontuação, trazer canetas ou dar toques ligeiros na mesa quando há novo motivo de atenção. Se pigarreia, é porque está mal da garganta: ao contrário do tímido, o mudo não insinua. Expressões favoritas: não tem.
Concretamente, os diversos arquétipos de quizeiros da nossa praça.
Sem pretensões de generalidade ou acerto estatístico, conclui que muitos dos que nos rodeiam mensalmente no fórum ajudita se podem enquadrar em meia-dúzia de arquétipos mais ou menos injustos, que passo a expor:
- O campeão:
Distingue-se pelo seu ar demasiado à vontade. Demasiado porquê? É apenas humano que a pressão competitiva, social e intelectual vergue as naturais inclinações de um jogador, que se transforma dentro do quiz, para melhor ou pior. O campeão, pelo contrário, age como se tivesse nascido dentro de uma biblioteca, sido alimentado a queijinhos de Trivial Pursuit, e educado por meia dúzia de Arquimedes de fato e gravata: nada o afecta, a competição é apenas uma questiúncula entre brutos iludidos - ele sabe que é o melhor. Por vezes acusam-no de não o demonstrar e prejudicar a equipa com ares de imponência ausente. Num dia bom, talvez se digne a responder, com bonomia e distanciamento, que nem achou que fosse necessária a sua intervenção; num dia mau, acusará a equipa de não o apoiar, com a melhor pose de virgem ofendida pelos pecados do mundo. Num dia médio, disfarça qualquer desconhecimento ocasional com palavras como "sinergias", "colaboração" e "brainstorming".
- O herói:
Quer ser campeão, mas não tem jeito. Sabe que os tiques nervosos o trairiam numa representação mais avantajada de superioridade, por isso tenta disfarçar com palpites e respostas debaixo da língua (exemplo já versado neste blog). O mundo do campeão não necessita de salvação, porque ele lá está — já o do herói precisa, e esta tarda em chegar. Organicamente, tem uma ligação directa entre o cérebro e a boca, que se vai comprimindo durante o jogo; como tal, no início vomita ininterruptamente tudo o que se lembra, na esperança estatística de acertar... Vai decaindo para onomatopeias e gritos de golo falhado, por falta de vocábulos não utilizados e de ouvidos por macerar. Como desculpa, remata uns "Claro, era óbvio!" pós-resposta, e reage com irritação quando o interrompem: está a fazer o melhor que pode. Gosta de expressões como "ponta da língua", "inconscientemente" e "documentário algures".
- O fixe:
O fixe é fixe. Não quer ser herói, satisfaz-se plenamente com o seu estatuto; mas, por vezes, consegue sê-lo. A sua presença habitual passa por uma pose descuidada, meio derramado sobre a cadeira, a galar as gajas que porventura abarcar com a vista. Considera o quiz principalmente como uma actividade social, e a competição é-lhe indiferente. Só fala quando sabe e, por essa razão, é ouvido atentamente, embora com alguma ironia nos entre-olhares dos restantes membros. No entanto, a ausência de nervos traduz-se em palpites geralmente úteis, regalando-se com um ou dois actos de heroísmo por noite. Geralmente apaga-se durante o quiz, por falta de conversa e excesso de nervosismo circundante. Se não fosse pelo amigo que lhe pediu imenso que suprisse uma lacuna nos elementos da equipa, não vinha. Ou talvez viesse. Gosta de expressões como "Nope", "está tudo controlado?" e "Isto é X, na boa".
- O estroina:
O estroina começa fixe. Mas prefere ser conhecido como "bon vivant", "artola", "boémio", ou "curtido", "maluco", "marado" — consoante a faixa etária. Isto porque, com o decorrer das perguntas e o levantar de copos, o estroina rapidamente cruza a fronteira de fixe para o inevitável bêbedo. No processo, perde o mesmo à-vontade (e equilíbrio) que lhe permitiu ir ao bar enquanto os colegas ruminavam a cascata que se aproximava. Consoante a capacidade de absorção de álcool, estabiliza num opinador belicoso, ou resvala para o dissipador exaltado. No entanto, como até sabe bastante, as suas opiniões ou gritos são bastas vezes acertadas; infelizmente, o tom de ameaça ou o volume utilizado desacreditam-no. Não tem expressões favoritas, tem copos personalizados.
- O cromo: O cromo não se importava de ser estroina. Mas sente em demasia o peso da responsabilidade para relaxar, e tem apenas tempo para ir beberricando a sua bebida de eleição (do 7Up ao Whiskey) entre duas cascatas. Chateia-se com os estroinas da equipa, pelo caos que geram, mas prefere-os aos fixes, que simultaneamente inveja e censura pelo descomprometimento. Não tolera heróis: o cromo tem horror ao exibicionismo, que considera teatral e falso. A pressão inerente às perguntas que pensa ter a obrigação de saber pode levá-lo a enganar-se — os colegas têm de aprender a dosear a fé no seu conhecimento mirabolante, de modo a que não bloqueie. O cromo é o mais moral dos jogadores de quiz: traumas liceais e outros levam a que, mais que um plebiscito às suas capacidades intelectuais, sinta que da pontuação final depende o seu lugar e utilidade na sociedade. Expressões favoritas: "Não é nada assim...", "Perdemos por minha causa" e "Eu digo", seguido de um silêncio sepulcral até à cascata cair na equipa: o cromo não confia que os demais cgesonsigam transmitir a profundidade da resposta.
- O tímido:
O tímido não quer ser cromo, embora seja muitas vezes confundido como tal. Inveja o fixe, pelo à-vontade e suposta vida social preenchida. E detesta o herói, que o interrompe das poucas vezes que ganha coragem para se pronunciar. Muitas vezes associa-se ao estroina: o muito tempo que passa calado serve para se ir enfrascando subrepticiamente, e a eloquência alcoólica daquele consegue por vezes furar a barreira do silêncio. Por vezes. Ao contrário do fixe, entrega-se plenamente ao jogo, mas em voz baixa: uma equipa inteligente saberá utilizá-lo como fiel da balança e frequente factor de desempate de palpites e chouriçadas. Expressões favoritas: "Desculpa", "Não sei, talvez o que ele queira seja" e "Se calhar o melhor é votar".
- O mudo:
O mudo não quer ser nada. O seu isolamento é tal que ninguém percebe se é extremamente tímido ou simplesmente oco; os colegas dividem-se entre considerá-lo genial, difícil, burro ou simplesmente desambientado. Em todo o caso, não ajuda nem perturba, simplesmente está. Muitas vezes assume tarefas paralelas, como tomar conta da pontuação, trazer canetas ou dar toques ligeiros na mesa quando há novo motivo de atenção. Se pigarreia, é porque está mal da garganta: ao contrário do tímido, o mudo não insinua. Expressões favoritas: não tem.
Comments:
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"E a seguir, vêm os nomes que definem os arquétipos? Isso é que a malta quer saber."
Antecipada uma nova iniciativa do blog! Não perca novidades nos próximos dias.
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