Thursday, December 14, 2006
Alguém pediu um jogo psicoiso? - Vídeo Quiz II
Para hoje, o video quiz oferece-vos um presente especial: aquele que é, sem equívocos, o mais famoso momento de todos os tempos de um concurso televisivo. Ou, como dizem os americanos, um game show. Em concreto, o cenário é o Match Game - que, receio bem, não dirá muito às audiências aqui da casa.
Facto basilar: é o mais clássico dos clássicos dos game shows, só equiparável ao Jeopardy!. A GSN - Game Shows Network, que é, como já prosaicamente intuíram, uma rede de canais que emite, em permanência, game shows (tipo o challenge britânico, mas com uma dieta mais variada - montanhas de reemissões, documentários históricos, reportagens sobre quizzes, especiais, talk shows com apresentadores ou concorrentes, um mundo, enfim), fez, há pouco tempo, a eleição dos 50 Greatest Game Shows of All Times. Tipo aquela aberração dos grandes portugueses, mas, no caso, não houve inconveniente em divulgar o vencedor: sigam o link para saberem que o Match Game venceu o Jeopardy!; a propósito, o já aqui referido e visionado "Who Wants to Be a Millionaire?" chegou a um honroso 5º lugar. E se o meu testemunho, aduzido deste facto, ainda não chega, diga-se que liderou as tabelas de audiências nacionais dos EUA durante boa parte da década de 70 - um maná para o programador equivalente a ter, durante centenas de dias, o último episódio do Seinfeld ou dos Friends para exibir.
Arrumada a importância, passemos à substância: na fase que nos interessa (o resto façam o favor de ler na wikipedia), temos dois concorrentes, a jogar à vez, 6 famosos num painel, que jogam "em cooperação" com ambos. O apresentador diz uma frase incompleta; o concorrente escreve uma palavra ou expressão para a completar; o painel faz o mesmo; ganha o concorrente cuja resposta tem mais correspondências com as do painel. Facto vital: não contam só respostas exactamente iguais - há um juíz a avaliar aquilo. Coisas muito aproximadas contam como certas, o critério é, naturalmente, algo subjectivo.
Assente a substância, ataquemos a relevância: O momento em causa aconteceu durante a época de 77, com o histórico Gene Rayburn como anfitrião do programa, e o pouco saudoso Carter (saco de vómito, por favor) da Casa Branca, e ficou conhecido para a posteridade como "the infamous School Riot". O "infamous" não prima pela neutralidade, mas tem, já dirão que sim, razão de ser. Nos painelistas (para fugir à boçalidade dos jogos léxicos pátrios), destaquem-se, porque figuras neste caso, Richard Dawson, a bela e malograda Debralee Scott e o impagável Charles Nelson Reily . A jogar, um simples anónimo. Tudo o que possamos dizer mais, seria um plot spoiler. Reparem apenas no uso da expressão "Dumb Dora", uma personagem da comics, popularizada pelo Gene Rayburn e este concurso, hoje parte incontornável da semântica norte-americana (a expressão, não a personagem), e vejam o vídeo. São 5 minutos bem passados.
O juíz não voltou atrás. O rapaz foi eliminado, 4-3. "Finishing school", "school". Mas o que nos traz a este post é o que aconteceu DEPOIS deste concurso. O senhor juíz em causa era, à data, um bem-sucedido produtor executivo da CBS. Carreira ascendente, visita de casa dos moguls do negócio, vivenda nos subúrbios, pós-graduação na Ivy League. Entretanto, o motim. O drama. O pânico. Foi apenas um episódio infeliz, terão reconfortado os próximos. Cairá no esquecimento, sopravam-lhe.
Falharam nas previsões: a celeuma foi em crescendo, incensada pelos jornais (já reparam que este blog é como um jornal?) do estado natal do concorrente. A pressão da comunicação social (já repararam que este blog é como se fosse comunicação social?) foi tanta que o juíz acabou por ver os seus serviços prescindidos. E desapareceu, sem vestígio, na turba anónima. Fim da história? Calma lá, Hegel. Meados da década de 80, já o grande Reagan em Washington, retoma-se o fio perdido: o juíz intransigente tinha, de facto, desaparecido do palco da comunicação social e do showbiz, não do mundo. Eu disse showbiz? Equívoco, continuava lá. Como amestrador de elefantes num circo itinerante no Dakota do Sul. Estamos a dourar a pílula: era ajudante do amestrador. Entrevista, que é feito dele? Circo, pois. As portas fecharam-se. A esperança deixou a janela da crença aberta. Queria regressar, um dia as pessoas esqueceriam, quem sabe? Era feliz, com certeza, muitas saudades daqueles tempos... foi aquele momento, traidor, fatal. E os jornais, os pasquins. Exageraram, exacerbaram. Deixou uma questão sem resposta: teria voltado a fazer tudo da mesma forma, a recusar a resposta?
Nem ele próprio, ainda hoje, esteja onde estiver, o saberá. Uma coisa não esqueceu, certamente: nestas coisas de jogos, cuidado com os pasquins. Há respostas que vale a pena aceitar.
Nota: faltam uns links, mas já deram as 8 e tenho de me por a andar. Até logo a todos.
Facto basilar: é o mais clássico dos clássicos dos game shows, só equiparável ao Jeopardy!. A GSN - Game Shows Network, que é, como já prosaicamente intuíram, uma rede de canais que emite, em permanência, game shows (tipo o challenge britânico, mas com uma dieta mais variada - montanhas de reemissões, documentários históricos, reportagens sobre quizzes, especiais, talk shows com apresentadores ou concorrentes, um mundo, enfim), fez, há pouco tempo, a eleição dos 50 Greatest Game Shows of All Times. Tipo aquela aberração dos grandes portugueses, mas, no caso, não houve inconveniente em divulgar o vencedor: sigam o link para saberem que o Match Game venceu o Jeopardy!; a propósito, o já aqui referido e visionado "Who Wants to Be a Millionaire?" chegou a um honroso 5º lugar. E se o meu testemunho, aduzido deste facto, ainda não chega, diga-se que liderou as tabelas de audiências nacionais dos EUA durante boa parte da década de 70 - um maná para o programador equivalente a ter, durante centenas de dias, o último episódio do Seinfeld ou dos Friends para exibir.
Arrumada a importância, passemos à substância: na fase que nos interessa (o resto façam o favor de ler na wikipedia), temos dois concorrentes, a jogar à vez, 6 famosos num painel, que jogam "em cooperação" com ambos. O apresentador diz uma frase incompleta; o concorrente escreve uma palavra ou expressão para a completar; o painel faz o mesmo; ganha o concorrente cuja resposta tem mais correspondências com as do painel. Facto vital: não contam só respostas exactamente iguais - há um juíz a avaliar aquilo. Coisas muito aproximadas contam como certas, o critério é, naturalmente, algo subjectivo.
Assente a substância, ataquemos a relevância: O momento em causa aconteceu durante a época de 77, com o histórico Gene Rayburn como anfitrião do programa, e o pouco saudoso Carter (saco de vómito, por favor) da Casa Branca, e ficou conhecido para a posteridade como "the infamous School Riot". O "infamous" não prima pela neutralidade, mas tem, já dirão que sim, razão de ser. Nos painelistas (para fugir à boçalidade dos jogos léxicos pátrios), destaquem-se, porque figuras neste caso, Richard Dawson, a bela e malograda Debralee Scott e o impagável Charles Nelson Reily . A jogar, um simples anónimo. Tudo o que possamos dizer mais, seria um plot spoiler. Reparem apenas no uso da expressão "Dumb Dora", uma personagem da comics, popularizada pelo Gene Rayburn e este concurso, hoje parte incontornável da semântica norte-americana (a expressão, não a personagem), e vejam o vídeo. São 5 minutos bem passados.
O juíz não voltou atrás. O rapaz foi eliminado, 4-3. "Finishing school", "school". Mas o que nos traz a este post é o que aconteceu DEPOIS deste concurso. O senhor juíz em causa era, à data, um bem-sucedido produtor executivo da CBS. Carreira ascendente, visita de casa dos moguls do negócio, vivenda nos subúrbios, pós-graduação na Ivy League. Entretanto, o motim. O drama. O pânico. Foi apenas um episódio infeliz, terão reconfortado os próximos. Cairá no esquecimento, sopravam-lhe.
Falharam nas previsões: a celeuma foi em crescendo, incensada pelos jornais (já reparam que este blog é como um jornal?) do estado natal do concorrente. A pressão da comunicação social (já repararam que este blog é como se fosse comunicação social?) foi tanta que o juíz acabou por ver os seus serviços prescindidos. E desapareceu, sem vestígio, na turba anónima. Fim da história? Calma lá, Hegel. Meados da década de 80, já o grande Reagan em Washington, retoma-se o fio perdido: o juíz intransigente tinha, de facto, desaparecido do palco da comunicação social e do showbiz, não do mundo. Eu disse showbiz? Equívoco, continuava lá. Como amestrador de elefantes num circo itinerante no Dakota do Sul. Estamos a dourar a pílula: era ajudante do amestrador. Entrevista, que é feito dele? Circo, pois. As portas fecharam-se. A esperança deixou a janela da crença aberta. Queria regressar, um dia as pessoas esqueceriam, quem sabe? Era feliz, com certeza, muitas saudades daqueles tempos... foi aquele momento, traidor, fatal. E os jornais, os pasquins. Exageraram, exacerbaram. Deixou uma questão sem resposta: teria voltado a fazer tudo da mesma forma, a recusar a resposta?
Nem ele próprio, ainda hoje, esteja onde estiver, o saberá. Uma coisa não esqueceu, certamente: nestas coisas de jogos, cuidado com os pasquins. Há respostas que vale a pena aceitar.
Nota: faltam uns links, mas já deram as 8 e tenho de me por a andar. Até logo a todos.
Comments:
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Para quem tiver dificuldades com o som ou com o inglês, a pergunta foi:
Gene: "Dumb Dora is SOOOO dumb...."
Audiência: "HOW DUMB IS SHE?"
Gene: "....that she sent her pearls to ____________".
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Gene: "Dumb Dora is SOOOO dumb...."
Audiência: "HOW DUMB IS SHE?"
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